I Work Alone

Estava eu preso no meio de um tédio que já não me invadia há algum tempo, quando pensei:
"Epá, vou fazer qualquer coisa que nunca fiz antes! Preciso de acrescentar qualquer coisa a este dia". Atenção, o dia tinha sido bom, um dia de reencontros inesperados, mas sempre muitíssimo bem-vindos (sei que vocês estão a ler, mas não é por isso).
Mas ainda assim faltava algo... Pensei em tudo o que me faltava fazer na vida, e nos recursos à minha disposição para o efeito... e decidi:
"Vou ao cinema sozinho!! Isto vai ser novo! E se não me trouxer mais nada, pelo menos vai-me dar qualquer coisa para escrever".

Lá fui eu, direitinho para Alvalade. Estava sozinho. Primeira vantagem, pude utilizar as minhas preferências clubísticas para influenciar a escolha da sala, sem ter que justificar com a qualidade do som, o número de salas, a variedade de filmes... enfim, Balelas (com letra grande)! Quando vou ao cinema gosto de dar dinheiro ao Sporting! Eles precisam e eu quero que eles tenham.

Pensei, que uma vez que já ia sozinho e provavelmente parecer um gajo com pouca emoção na vida, o melhor seria escolher um filme que não fosse deprimente. Decidi então que ia ver uma comédia. Escolha arriscada, porque as comédias são muitas vezes deprimentes. Mas a escolha era minha! De mais ninguém! Era eu, mais eu no barco. Se alguém tinha que remar, tinha que ser o gajo de côr sem cabelo... E não havia mais nenhum por perto.
Vou para a bilheteira, depois de já ter ultrapassado a estranha sensação de ir sozinho ao cinema, quando ela volta abruptamente:
"Um bilhete para a sessão das 0h15 mins, para o "Declaro-vos Marido e marido"".
O gajo da caixa estava desatento, e perguntou simpaticamente:
"Peço desculpa disse um?"
"Sim, só um"

O meu ar comprometido deve ter contado a história, o rapaz sentiu-se na obrigação de se retratar:
"Peço desculpa"...
Com enorme fair play disse: "Não peça, a culpa não é sua. Eu é que tenho que começar a tratar melhor as pessoas".

Após os sorrisos da praxe, estavam lançadas as bases para uma noite de boa disposição. Mas agora havia outra coisa que me afligia... Um filme em que dois gajos se casam... O Brokebook da comédia... Não me parece o tipo de filme que um gajo vá ver sozinho, e do qual possa sair sem ter a sua masculinidade questionada por alguém que eventualmente estivesse presente. Senti-me desapoiado novamente. Precisava de adereços. Voltei à caixa e pedi Pipocas e Bebida. Médias!! Era noite para perder a cabeça! Além de que podia fazer barulho a comer com a boca aberta, e o gás da coca-cola ia fzer-me arrotar à macho!!! Isto no caso de alguém ter dúvidas.

Vi o filme... e percebi que... o cinema não tem nada a ver com quem se vai, tem a ver com o que se vai ver. É uma constatação óbvia, e que francamente me faz sentir estúpido por sempre ter rejeitado a ideia de ir sozinho ao cinema. Nota mental:
"O cinema não é um desporto colectivo! Para isso já jogo à bola". Adorei o filme, fartei-me de rir, é realmente divertido. Mas mais do que isso, marquei a experiência como sendo a repetir. Daquelas que, "O que custa é dar o primeiro passo... depois é sempre a andar".
Chego a casa, sorrio para o espelho e penso: Bom final de dia. Mesmo á filme. Fiz questão disso, e só não dei um murrinho no queixo à Boggart, porque me pareceu excessivo. Mas pensei nisso. Enfim, foi mesmo um bom final de dia.

I work alone, but the job gets done anyway.